MEC compra livro com sexo explícito para alunos de escolas públicas

11/03/2024

“O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, foi incluído no Programa Nacional do Livro e do Material Didático.

“O Outro Lado da Pele”, escrito por Jeferson Tenório, foi adicionado pela pasta ao PNLD, o Programa Nacional do Livro e do Material Didático. Através dele, o MEC adquire obras literárias para fornecê-las às escolas que requisitarem.

A inclusão deste livro no PNLD ocorreu em setembro de 2022, ainda durante a gestão de Bolsonaro. A portaria que aprovou “O Outro Lado da Pele” e outras 530 obras foi assinada por Gilson Passos de Oliveira, da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação. O livro de Tenório está categorizado para o “Ensino Médio”.

A polêmica veio à tona recentemente, quando a diretora de uma escola em Santa Cruz do Sul (RS), Janaina Venzon, expôs o conteúdo do livro em sua página no Instagram. Ela compartilhou duas passagens do livro que apresentam linguagem explícita e conteúdo sexual, e afirmou que o MEC enviou 200 cópias da obra para a escola onde trabalha.

Uma das partes destacadas pela professora faz uma alusão direta ao tamanho dos órgãos genitais masculinos.

Outra passagem menciona os órgãos sexuais masculinos usando termos vulgares, e também utiliza uma expressão chula para os órgãos genitais femininos. A passagem descreve um ato sexual: “Vem, minha branquinha. Vem, meu negão. Chupa a tua branquinha. Chupa o teu nego. Adoro a tua pele branquinha. Adoro a tua pele, meu nego. Adoro tua b… branca. Adoro teu p… preto”.

Passagens explícitas e linguagem imprópria

A Gazeta do Povo confirmou que as passagens mostradas por Janaina Venzon realmente fazem parte do livro incluído no PNLD, e também identificou outras passagens com teor adulto.

O livro de Jeferson Tenório contém mais de cinquenta passagens com palavrões ou termos considerados inadequados para adolescentes. O livro também menciona diversas vezes relações sexuais do protagonista e de seus pais. Os termos foram censurados nesta reportagem, mas estão presentes na obra adquirida pelo MEC.

Um trecho do livro utiliza palavras grosseiras de forma gratuita: “Pegando uma lata de cerveja, ele olhou para a minha mãe e perguntou onde ela tinha aprendido aquilo. Aprendido o quê?, ela quis saber. Aprendido a fazer sexo como uma p…, ele disse. Porque nunca vi uma moça virgem gemer daquele jeito na cama, se mexer daquele jeito, onde você aprendeu isso, sua piranha?”.

Outra passagem descreve um ato sexual forçado entre adolescentes: “Você lembra da primeira vez que a beijou e teve vontade de vomitar cada vez que sentia a língua dela entrando na sua boca. Você não entendia por que um beijo tinha que ser daquele jeito. Depois ela mandava você baixar a bermuda porque queria beijar o seu p… e você dizia que não queria, e a prima Violeta te ameaçava dizendo que podia inventar uma série de coisas a seu respeito.”

A obra também faz menções diretas ao consumo de drogas. “Alguns iam nadar no rio, outros na cachoeira, e havia ainda os que buscavam diversão num baseado ou em cocaína”, afirma uma das passagens.

“O Outro Lado da Pele” aborda a discriminação contra negros. A editora Companhia das Letras descreve o livro como “um romance sobre identidade e as complexas relações raciais, sobre violência e negritude”. No desfecho da história, o pai do protagonista é injustamente executado pela polícia.

A obra foi vencedora da categoria “Romance Literário” do Prêmio Jabuti em 2021.

MEC se defende

O Ministério da Educação emitiu um comunicado neste sábado sobre o caso. Enquanto atribui a escolha da obra ao governo anterior, o ministério afirmou que o conteúdo dos livros incluídos no PNLD, incluindo “O Outro Lado da Pele”, é previamente avaliado por especialistas. “A aquisição das obras se dá por meio de um chamamento público, de forma isonômica e transparente. Essas obras são avaliadas por professores, mestres e doutores, que tenham se inscrito no banco de avaliadores do MEC”, afirmou o ministério.

O comunicado também afirmou que “os livros aprovados passam a compor um catálogo no qual as escolas podem escolher, de forma democrática, os materiais que mais se adequam à sua realidade pedagógica”.

O Ministério da Educação afirmou que o MEC só entrega as obras às escolas que fazem uma solicitação formal.

Entretanto, a diretora Janaina Venzon afirmou que não solicitou o livro para a escola onde atua como diretora. “Se for comprovado que a coordenação pedagógica não fez o pedido por indicação de um professor, estaremos levando o caso para o Ministério Público”, ela escreveu neste sábado, em sua página no Instagram.

Fonte.: Redação AM POST